sexta-feira, 28 de março de 2008

Contos 2

Crónica acerca de Bela

"A perspectiva de um novo amor tinha um duplo efeito na vida pacata de Bela.
Por um lado, existir alguém que voltasse a mexer na sua mente e com os seus sentidos de mulher era algo que vinha despertar o seu lado feminino, por outro lado, as circunstâncias que estavam na origem deste pseudo amor, tinham algo de caricato, o que a levava, como mulher prevenida, a racionalizar todos os contornos desta nova paixão. Afinal de contas, o responsável por esta nova brisa fresca na sua vida, conhecera-o na internet.... Lembrava-se dos conselhos sábios da sua mãe que sempre a prevenira para os portugas que apareciam na net e desafiam a lei da gravidade de mulheres de coração aberto e bondoso....No entanto, este rapaz que lhe vinha tirando o sono e a levava a ter sonhos de encantar, parecia ser respeitoso, bem intencionado, alguém em quem podia confiar... Afinal, era um rapaz de Coimbra, cidade impoluta, com algumas características que agradavam a Bela: gostava de conversar sobre assuntos que não interessavam a muitas das pessoas das suas relações pessoais, tinha um especial gosto por literatura, amava a poesia como uma mãe ama um filho,
sabia conversar sobre assuntos gerais, sem ser aborrecido ou provocar tédio nos outros. Mas e daí? Pensava Bela... Será o suficiente para este súbito aquecer de alma? Bela, mulher experiente e inteligente, sentia-se indefesa, colocando a emoção sobre a razão, algo que para si seria impensável meses atrás. Mas o caminho que à sua frente se abria, trazia-lhe a esperança de um novo amor e conferia-lhe a confiança perdida. Muitas vezes nos seus longos e solitários passeios nocturnos, lembrava-se como seria bom ter ao seu lado, naquele preciso momento, alguém especial com quem conversar, com quem apreciar o estrelado céu, alguém com quem pudesse ouvir os murmúrios do mar distante.... Seria este garboso rapaz de Coimbra, de
palavras simpáticas, o Eleito? É bem verdade que outros rapazes dela se tinham aproximado, mas sem causar em Bela a empatia que sentira por este jovem. Outros tentaram a sua sorte junto de Bela, todavia, a brisa da paixão nunca soprara naquela direcção. Bela sentia um pequeno aperto no seu pequenino coração quando lhe vinham à cabeça estas ideias, estas reflexões, estes receios....no entanto, estava disposta a arriscar para sentir de novo o calor de uma paixão que nos arrebate e nos deixa sem forças. Lembrava-se muitas vezes dos poemas de Drummond de Andrade.

Alguém Especial"
Carolzita
Publicado no Recanto das Letras em 14/08/2006
Código do texto: T216545

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