"O gosto pela escrita não era recente. Na verdade, Bela sempre gostou de expressar os seus sentimentos e emoções através das palavras. A magia dos adjectivos, a procura do tempo verbal certo, o balanço da pontuação e o lado metafórico das ideias constituiam para Bela a expressão da perfeição e do belo. A beleza, para ela, estava nas palavras. Todo o resto era secundário. Desde cedo cultivara o prazer de escrever para ela e para os outros. Os seus mais recônditos e profundos pensamentos dava-os a conhecer através das suas palavras. Gostava de partilhar. Sabia bem que escrevia com elevo, num tom de sedução e encantamento. Dominava a sua língua e tinha orgulho nisso. Sentia alguma vaidade quando, por vezes, alguém lhe elogia alguns dos seus escritos. Tinha um dom, não havia dúvidas disso! Por vezes, os seus textos eram densos, profundos, indo ao âmago das questões. Outras vezes leves, denotando alegria. Não escrevia com ligeireza e precipitação. Pensava as palavras e só depois as vertia para o papel. Incontáveis foram as noites que no seu pequeno quarto, com a janela entreaberta deixando entrar o fresco da noite, escreveu belos e sentidos textos, numa tentativa de perpetuar aquele momento e de o tornar único. Sentada de frente da escrivaninha, no silêncio da noite, pensava no país que a acolhera e no país que deixara para trás. Pensava na família e nos entes mais queridos. Pensava no presente e no futuro. E escrevia em acto contínuo e reiterado. Quando escrevia não o fazia para alguém em particular. Os seus escritos não tinham um destinatário. No entanto, nas últimas semanas escrevia a pensar em alguém e por vezes escrevia para esse alguém, como num namoro, em que se dá e se recebe. Sentia-se feliz por isso. Finalmente, os seus escritos tinham do outro lado um rosto visível. Alguém Especial" |
Carolzita |
Publicado no Recanto das Letras em 22/08/2006 Código do texto: T222906 |
sexta-feira, 28 de março de 2008
Contos 5
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